terça-feira, 1 de março de 2011

Felizes para sempre?



Nunca gostei do clichê que os padres costumam repetir na cerimônia de casamento, que diz mais ou menos assim: “Duas chamas que agora se encontram para formar uma só”.
Já fui a um casamento em que essa ideia era encenada. O padre entregava uma vela para o noivo, outra para a noiva, pedia que eles unissem as chamas das duas velas e nesse encontro literal das duas chamas, repetia o tão famoso clichê. Muita gente a nossa volta suspirava: “Tão lindo”. A minha filha, que devia ter na época uns oito anos, olhou para mim e disse baixinho: “Mãe! Essa história na vida real não dá muito certo, né?” Sorrimos com cumplicidade.

É isso, nenhum outro discurso é tão cheio de clichês quanto o discurso romântico. Desde muito cedo somos mergulhados em narrativas românticas. Quem não passou a infância escutando história de príncipes e princesas? Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida, Rapunzel e tantas outras, fazem parte das “mulheres princesas” salvas por um príncipe jovem, lindo e heróico.

Esses personagens românticos estão tão enraizados em nosso imaginário que quando crescemos substituímos as histórias infantis pelas comédias românticas, de preferência com final feliz, que a indústria do cinema não para de produzir.

A princípio, não podemos condenar o romantismo amoroso. Afinal, ele pode ser um elemento poderoso nesse caldo hiper-realista da sociedade tecnológica e de consumo em que estamos mergulhados.

O que assusta é o olhar demasiadamente romântico em algumas relações amorosas. O que assusta é quando as pessoas tomam a narrativa romântica como ideal de vida: quando se passa a desejar que a união se transforme em metamorfose. Quando homens e mulheres se deixam metamorfosear-se em objeto do desejo e do gozo do outro, abrindo mão de suas singularidades para viver a ilusão romântica de terem sido salvos por seus príncipes e princesas.

Uso o termo metamorfose para falar desse processo de transformação intenso, radical e de pouca consciência que algumas pessoas passam quando entram numa relação amorosa. Um processo que elas, em momentos pontuais, se dão conta; mas que não tem força para resistir. E por não conseguir resistir, cada vez mais, vão se transformando em coadjuvante de sua própria história. Vivem em função das demandas e caprichos de seus heróis e, por isso mesmo, alienados de seus próprios desejos. Até o dia em que o príncipe e a princesa viram sapos, e o conto de fada vira um drama “mexicano”, ou pior, uma tragédia “grega”.

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