segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Retratos da Vida





Sobre o palco da Segunda Guerra, quatro famílias, de quatro lugares diferentes – Moscou, Paris, Berlim e Nova York -, constroem a trama de Les Uns et les Autres, filme de Claude Lelouch. Traduzido para o português como Retratos da Vida, o filme de 1981, converte a música “Bolero de Ravel” em signo de resistência ao mal estar da cultura.

E é a música, mais do que a guerra, a linguagem que dá consistência a narrativa e une os personagens. Uma união sutil, já que suas vidas não se cruzam. No entanto, por quase duas horas, nós, telespectadores, acompanhamos o desenvolvimento dessas quatro histórias diferentes, que o olhar desse sensacional fotógrafo transforma em uma excelente narrativa.

O filme começa no ano de 1936, em Moscou, onde a dançarina Tatiana apresenta-se diante de um comitê que vai escolher aquela que dançará o “Boléro de Ravel”, e se tornará a 1ª bailarina do Bolshoi. Ela não é a escolhida mas pouco depois, casa-se com o músico e um dos examinadores, Boris Itovitch. Depois que o casal tem um filho, Sergei, a Rússia é invadida pelas tropas nazistas, e Boris é convocado pelo exército, morrendo no campo de batalha.

A segunda história se desloca para a cidade de Paris. No ano de 1937, uma jovem e promissora violinista, Anne, apaixona-se e se casa com o colega e pianista judeu, Simon Meyer. Em agosto de 1942, durante a ocupação da cidade pelas forças nazistas, o casal é deportado para um campo de concentração, levando consigo o filho Robert, com apenas alguns meses de idade. Quando o trem, que os leva, para na pequena cidade de Igney-Avricourt, eles abandonam o bebê entre os trilhos da ferrovia, na esperança de que alguém o encontre. Um adolescente, ao passar de bicicleta, o apanha e o deixa à porta de uma pequena igreja a 50 km do local. Robert é, então, criado pelo padre Antoine, com o nome de Robert Prat. Seu pai, Simon, é morto numa câmara de gás do campo de concentração.

O ano de 1938 desloca a narrativa para Berlim. O enorme sucesso de Karl Kremer, um jovem pianista, é confirmado quando ele recebe os cumprimentos pessoais de Hitler. A eclosão da guerra, em 1939, o leva a deixar sua mulher, Magda, a fim de lutar por seu país. Quando as tropas alemãs ocupam Paris, em junho de 1940, Kremer desfila a frente de seu batalhão. Ele permanece na capital francesa, durante todo o período da ocupação.

Por fim, em 1939, na cidade de Nova York, durante uma apresentação de Jack Glenn e sua orquestra, após ele dedicar sua última composição à sua jovem mulher, a cantora francesa Susanne, o show é interrompido para ser anunciado que, face à invasão da Polônia pelas tropas nazistas, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha. Em dezembro de 1942, Jack deixa a mulher e seus dois filhos pequenos, Jason e Sarah, ao viajar para Londres onde, à frente de uma orquestra militar, proporciona shows para entretenimento dos soldados. Logo após a libertação de Paris pelas forças aliadas, em agosto de 1944, Jack anima a festa popular da vitória num dos parques da capital francesa. Na multidão que canta e dança ao som de sua orquestra, encontram-se o padre Antoine, com o pequeno Robert em seus braços, assim como, Evelyne, uma jovem cantora francesa que, durante o período da ocupação, teve vários amantes entre os oficiais nazistas.

Essas são as pequenas histórias, dramas subjetivos datados que se transformam no gatilho dessa comovente e honesta narrativa que Lelouche nos oferece.

É um filme longo, portanto, ótimo para ver, ou rever, nesse período de férias.


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