quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um encontro que vira um conto



"Tinha que Ser Você", o filme escrito e dirigido por Joel Hopkins, oferece uma perspectiva deliciosa sobre as condições que fazem um amor acontecer. É a história de um encontro casual que transforma a vida dos protagonistas.



É possível, dizem algumas críticas, ver o filme como uma parábola em prol da ideia de que nunca é tarde demais para deixar que um amor nos dê um novo rumo. Afinal, Harvey (Dustin Hoffman) está na casa dos sessenta, e Kate (Emma Thompson) na dos cinquenta.


Tendo como pano de fundo a gelada, mas sempre bela e acolhedora cidade de Londres, o filme começa mostrando a vida de Harvey e de Kate. Duas pessoas de meia idade que não conseguiram aventurar-se a viver os seus sonhos: ser pianista de jazz para Harvey, e romancista para Kate. Os dois estão sozinhos e conformados com a mediocridade afetiva de suas vidas: Kate se tornou a filha que cuidará para sempre da velha mãe, e Harvey já desistiu de ser o pai da filha de quem ele se distanciou, muitos anos antes, no divórcio que o separou da mãe dela.


O deserto afetivo dessas duas pessoas começa a mudar quando Harvey encontra Kate, uma funcionária de censo do aeroporto de Londres. Decepcionado, por se sentir deslocado no casamento da própria filha, Harvey inicia a conversa com Kate sem apelar para o discurso da sedução. A conversa deles começa quase como um desabafo, pois Harvey se apresenta confessando o fracasso de sua vida.


Kate não se assusta, nem se compadece. Aceita o tom do diálogo e escuta com atenção a história que aquele homem lhe oferece. Harvey não é nenhum príncipe encantado, nem um super herói. Mas é um homem que acabou de constatar a sua enorme solidão. Kate se aloja com maestria no espaço aberto por essa constatação.


Uma trama romântica – nada de comédia romântica – que se desenrola em diálogos simples, comum mesmo, entre os dois personagens caminhando pela cidade de Londres. “Tinha que ser você”, ou “Last Chance Harvey” – última chance de Harvey -, conta a história de um amor que não surge da sedução e do charme, mas da coragem de constatar a própria solidão, e da ousadia de se arriscar.






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