No texto a baixo, Andrea Ramal propõe que aluno, família e escola participem da resolução dos problemas gerados pelo mau desempenho
escolar. São soluções que ajudam a diminuir os traumas, os transtornos e as
cenas dramáticas; tão comuns nesses momentos.
Meu filho ficou em recuperação: E agora?
Andrea Ramal
Dezembro é mês de alegria para muitas famílias
e tensão para outras. Enquanto alguns estudantes planejam suas férias, outros
enfrentam o desafio de estudar em dobro: é o caso de quem ficou em recuperação.
Se o seu filho está nessa, saiba que, embora o primeiro impulso de muitos pais
seja dar broncas, agora é mais produtivo acompanhar os estudos e motivá-lo a se
esforçar ao máximo.
Evite fazer ameaças e dizer coisas como: “Por
sua culpa a família toda ficará sem viajar”, ou “se for reprovado, será um ano
inteiro sem videogame”. De modo algum diga frases que enfraqueçam a sua
autoestima, como: “Nunca tirou essa nota, como vai conseguir agora?”, ou “seu
irmão passou direto, e veja só você”.
Não adianta descontar nele o seu desapontamento,
o estudante já está fragilizado. Ninguém está mais aborrecido do que ele, pois
a maioria dos colegas vai se divertir, enquanto ele corre o risco de perder um
ano. Por isso, dê apoio, mostre confiança e deixe claro que ele tem um aliado
para superar o problema.
O que você pode fazer? Se o seu filho é criança,
ajude-o a organizar a agenda de estudos; procure os professores para receber
orientações; suspenda temporariamente as atividades extras; acompanhe a
realização das tarefas.
No caso de adolescentes, é preciso limitar os
horários de TV e games, a duração dos papos pelo telefone, as saídas com
amigos, o namoro, as redes sociais. Explique que não se trata de um castigo,
mas de colocar o foco no objetivo deste momento. Isso será um aprendizado e
tanto para outras etapas da vida.
Considere a possibilidade de contar com um
professor particular. Não é algo que os educadores gostem de recomendar, pois,
em geral, os alunos recebem ao longo dos meses, na própria escola, toda a orientação
necessária para aprender. Contratar professores a esta altura, com o estudante
“pendurado”, pode reforçar uma visão de que os pais sempre “dão um jeito” para
livrá-lo dos problemas.
Porém, pode haver uma dificuldade específica de
aprendizagem. Observa-se naquele caso do aluno que estuda, se esforça e, ainda
assim, não vai bem. Uma ajuda pontual, nestas circunstâncias, pode ser
positiva. Se a família não tiver condições de arcar com o custo das aulas, pode
criar um grupo de estudos. Às vezes, a matéria explicada por um amigo fica até
mais fácil de entender.
Passada a recuperação, é momento de refletir
sobre o papel dos três implicados: o aluno, a família e a escola. No processo
de aprendizagem, eles precisam trabalhar em sinergia e tanto a aprovação como o
insucesso têm uma parcela de cada um.
No caso do estudante, os pais precisam conversar
para saber o que houve. Os motivos foram ligados à atitude pessoal, como falta
de estudo, brincadeira em excesso, desorganização? O problema ocorreu em várias
matérias, ou numa em especial? Como pensa evitar isso no futuro?
A família também precisa se questionar. A
recuperação foi uma surpresa, ou já estavam prevendo? O mau desempenho vai
sendo construído aos poucos, não é algo que se descobre de repente. Pode ser
que os pais não estejam acompanhando os estudos. E pode haver outras coisas
implicadas, como problemas de relacionamento na turma, conflitos familiares,
algum distúrbio de aprendizagem, ou outro problema que a família ainda
desconheça.
Por fim, cabe um questionamento à escola. Quando
um aluno não aprende no tempo previsto, o colégio deve refletir se cuidou de
cada um, de forma personalizada. Não adianta andar com a matéria se um grupo
não aprendeu.
Além disso, a escola precisa verificar se há
muitos alunos na mesma situação. Será que o nível de exigência está alto demais
para a idade? O método das aulas funciona? Há algum problema com a turma – por
exemplo, o “grupinho da bagunça” impede os outros de aprender, ou há um
conflito entre os estudantes?
Vale lembrar que a recuperação do final de ano
não resolve tudo. O que funciona é a recuperação paralela, com classes de
reforço, ou atividades na própria aula. Esse método é bem mais eficaz, pois
resolve as lacunas de aprendizagem ao longo do ano. Por isso, é adotado pelas
melhores escolas. Afinal, o objetivo da educação não é “passar de ano”; o que
importa mesmo é garantir que todos os estudantes aprendam de verdade.
FONTE: Site G1