O efeito nocebo ocorre quando um tratamento falso
inflige sintomas indesejáveis. É o inverso do efeito placebo, caracterizado
pela melhora do quadro do paciente apenas pelo efeito psicológico, quando ele
recebe um tratamento simulado. A sugestão negativa ou o efeito nocebo ocorre
sempre que existirem expectativas negativas, que são frequentemente provocadas
quando médicos, por exemplo, explicam todas as complicações que podem ocorrer
durante um procedimento indicado ao seu paciente.
Uma
parte dos efeitos colaterais das drogas ocorre também
por essa indução psicológica, quando, por exemplo, o paciente lê uma bula e
passa a sentir os efeitos colaterais descritos nela, ou quando um paciente está
sob teste de uma nova medicação, ingere uma cápsula sem a droga, mas começa a
ter os mesmos efeitos colaterais descritos pelo medicamento verdadeiro. Essas
reações ocorrem por dois motivos: o condicionamento pavloviano e a reação psíquica
às expectativas. Uma maneira de se reduzir isso é evitar tocar no assunto
“efeito colateral”, o que interfere na questão ética de esclarecer o que será
feito com o paciente e quais os riscos. A saída, portanto, é reforçar as
vantagens do tratamento proposto.
A mídia também tem um
papel alimentador de efeito nocebo, pois toda vez que divulga supostos efeitos
danosos de uma substância ou produto pode induzir pessoas sugestionáveis a
apresentar sintomas ou até mesmo doenças imputadas ao uso do produto. Um
fenômeno que pode indicar o quanto o efeito nocebo está presente em nossas
vidas é a chamada hipersensibilidade eletromagnética, que é definida por
mal-estar desencadeado por exposição a ondas eletromagnéticas, como as emitidas
por telefones celulares. A existência dessa condição é bastante questionada,
mas algumas pessoas se queixam de dor de cabeça, tontura, queimação ou
formigamento na pele quando expostas a equipamentos eletrônicos. Alguns
indivíduos até evitam o convívio o social e se mudam para áreas remotas com
menos eletricidade.
Com o auxílio de exames de
ressonância magnética pode-se demonstrar que áreas ligadas à sensação de dor
estão ativadas no cérebro dessas pessoas quando estão tendo o mal-estar. Ainda
que a doença não seja real, os sintomas são.
O
doutor Michael Witthoft, da Universidade Johannes Gutenberg, da
Alemanha, e o doutor James Rubin, do King’s College de Londres, estudaram a
hipersensibilidade eletromagnética e concluíram que ela pode muito bem ser um
nocebo. Em seu estudo, colocaram 147 voluntários para assistir a dois
documentários. Parte dos voluntários assistiu um filme sobre os potenciais
efeitos nocivos dos telefones celulares e aparelhos de rede Wi-Fi e a outra parte
assistiu a outro filme que descrevia como esses aparelhos eram seguros. Em
seguida, todos os indivíduos eram expostos a ondas de rede Wi-Fi, que se
dizia serem reais, mas na verdade não existiam. Resultado: 54% dos voluntários
descreveram sensações associadas à hipersensibilidade, dois
precisaram abandonar o estudo, pois não suportaram os sintomas ocasionados
pelas ondas imaginárias. Apesar de ambos os grupos apresentarem sintomas, o
grupo que assistiu ao documentário que mostrava os perigos dos aparelhos foi o
que mais apresentou sintomas.
O Dr. Wittihoft acredita
que a simples antecipação de efeitos colaterais pode desencadear dor e
distúrbios, e assim, a mídia sensacionalista pode interferir negativamente na
saúde de grande parte da população quando divulga dados sem base científica
sobre riscos de um determinado produto ou medicamento criando verdadeiras
neuroses ou até doenças.
Por Rogério Tuma
FONTE:
Revista Carta Capital
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