Um bom texto pode começar com uma boa idéia. Esse é o caso do artigo de Marcello Ganem sobre o ensino superior privado no Brasil, publicado no Jornal Valor Econômico, de outubro de 2010. Ele inicia mostrando o quadro atual do ensino superior privado no país, e aponta caminhos interessantes para a gestão de sucesso nessa área.
Segundo Marcelo, apesar do aumento da profissionalização, o ensino superior privado no Brasil ainda está muito pulverizado. Em 2007, as vinte maiores instituições privadas tinham em média 44 mil alunos matriculados, enquanto as duas mil instituições privadas menores tinham em média 1,4 mil alunos matriculados.
Além disso, as vinte maiores instituições detinham apenas 24% do total de aluno matriculados no ensino superior privado em 2007. Boa parte destas instituições de menor porte não conta com uma gestão profissional e está em situação econômico-financeira desequilibrada.
Analisando-se apenas a taxa de inclusão do ensino superior no Brasil, chega-se a uma conclusão inicial de que o setor tem um grande potencial de crescimento nos próximos dez anos. Apenas 17% da população com idade entre 18 e 35 anos cursou ou está cursando o ensino superior. É uma inserção bastante pequena quando comparada com os EUA, Europa e países latino-americanos como Argentina, Chile e México.
Contundo, analisando-se a inserção por classe social observa-se que ela é elevada nas classes A e B, porém baixa nas demais, o que sugere a existência de uma barreira de renda ao crescimento. Dentre os 21 milhões de brasileiros da classe C com idade entre 18 e 35 anos, apenas 9% cursou ou está cursando o ensino superior.
As empresas de ensino superior, ao verem saturado o potencial de crescimento nas classes A e B, estão focando seu crescimento nesse gigantesco contingente da classe C. Pois essa classe vem aumentando o consumo de serviços como educação e saúde.
As instituições privadas de ensino superior contam com duas ferramentas para superar essas barreiras e aproveitar essa grande oportunidade: financiamento estudantil e tecnologia. O financiamento estudantil poderá ter um grande impulso com o fortalecimento do FIES – Financiamento ao Estudante de Ensino Superior – pelo governo. A ideia é que o aluno de baixa renda pague uma mensalidade módica durante o curso e, após a formatura, já empregado, pague uma mensalidade que não represente mais de 25% de sua renda.
Novas tecnologias viabilizam a entrega de conteúdo digital à distância, seja via satélite ou pela internet. Esse procedimento amortiza os principais custos do negócio – professores e infraestrutura física, o que permite reduzir a mensalidade. Como consequência, o mercado-alvo do ensino superior pode crescer significativamente, pois permite uma entrada vertiginosa nos níveis de renda mais baixos. Essas ferramentas serão importantes para que as instituições privadas de ensino superior deixem para trás uma incômoda situação de baixo crescimento e elevada inadimplência.
Segundo Marcelo, as empresas que prosperarão serão aquelas que conseguirem combinar ensino de boa qualidade com preços competitivos. Boa qualidade do conteúdo, do corpo docente e da infraestrutura de apoio físico ou digital, que ensejará o sucesso dos alunos na entrada no mercado de trabalho. Para oferecerem mensalidade com preços adequados ao mercado-alvo, as empresas necessitarão de escala, traduzida por centenas de milhares de alunos matriculados.
A escala permite investir em conteúdo, docentes, ferramentas tecnológicas e na construção de sua marca. Num mercado competitivo como o de educação, a marca funcionará cada vez mais como um diferencial para a captação e retenção de alunos, além de permitir à empresa praticar mensalidades um pouco maiores, aumentando o retorno do negócio.
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