terça-feira, 24 de novembro de 2009

Quando a aposentadoria chegar eu serei ....



Passamos grande parte da vida profissional acreditando que, quando a aposentadoria chegar, finalmente seremos livres e felizes. Mas, nem sempre a aposentadoria é sinônimo de felicidade. Na verdade, pelas histórias que me contam, acredito que para poucas pessoas a vida de aposentado é uma vida feliz ou prazerosa.




Rubem Alves conta uma historinha bastante interessante sobre essa ilusão que carregamos pela vida adulta:

Desde muitos séculos, São Jorge fora um habitante da Lua. Romântica quando vista da Terra, a Lua era a arena de uma batalha diária entre o Santo Guerreiro e o Dragão da Maldade. Todas as manhãs, ao acordar, São Jorge sabia: havia uma missão que só ele podia cumprir.



Era esse sentimento quase religioso de missão e de dever que dava sentido à sua vida. Bem que ele poderia ter matado o Dragão séculos antes. Mas ele sabia que se matasse o Dragão sua vida se transformaria num tédio sem fim: nada para fazer, nenhuma missão a cumprir. Sua máxima espiritual era “Pugno, ergo sum”: luto, logo existo. São as batalhas que dão sentido à vida.




Aconteceu, entretanto, algo de que ninguém suspeitava. O Dragão era, na verdade, uma linda donzela que uma bruxa invejosa havia enfeitiçado e mandado para a Lua. Mas como todo feitiço tem um prazo de validade, chegou também o dia em que a validade do feitiço chegou ao fim e se desfez: o horrendo Dragão foi transformado numa linda donzela.




São Jorge, que tudo ignorava, acordou na manhã daquele dia como acordava todos os dias, determinado a cumprir o seu destino que era dar combate ao Dragão. Com lança, armadura e espada saiu o guerreiro em seu cavalo. Mas qual não foi o seu susto quando, em vez de um Dragão, o que o esperava era um ser que lhe era totalmente estranho: uma linda donzela.




E a donzela com suas vestes entreabertas o recebeu com palavras de amor e prazer: “Venha, Jorginho, provar do meu carinho e do mel dos meus beijos...”




São Jorge ficou paralisado de susto e medo. Não sabia o que fazer. Essa entidade estranha não estava registrada em sua memória. Não lhe fora ensinada na escola. Fora educado a vida inteira para a batalha. Era a batalha que dava sentido à sua vida. E agora ele se defrontava com a possibilidade de simplesmente gozar sem nada fazer...




São Jorge nem desceu do seu cavalo. Voltou para onde viera triste e deprimido, com saudades dos tempos do Dragão. O Dragão dava sentido à sua vida. Ele definia a sua identidade: ele era um guerreiro... Agora, perdida sua identidade, perdeu-se também o sentido de sua vida.




Não lhe fora ensinada na escola a arte do prazer, de não ter deveres a cumprir. Sua vida tornou-se então, um grande vazio. Quanto à linda donzela, apesar de linda, não foi apreciada. São Jorge olhava-a com aquela sensação saudosista dos tempos do Dragão.

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2 comentários:

  1. Nao concordo. aposentadoria so eh sofrida para os pobres que sem dinheiro nao podem ir as comprar ou fazer viagem sensasionais. Ou fazer o que da na telha.

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  2. Concordo que a aposentadoria é um estagio da vida profissional dificil de ser enfretado, mas, só para os que são escravisados no trabalho pelo outro, que ganha as suas custas.

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